Estima-se que, quase três bilhões de indivíduos tenham dor de cabeça do tipo tensão ou enxaqueca, os dois tipos de cefaleias primárias mais prevalentes no mundo. Ambas estão associadas a um amplo espectro de incapacidades, principalmente em sua forma crônica.
A enxaqueca tem como características clínicas: dor de um lado da cabeça, de forte intensidade, latejante, podendo estar associada a náuseas e vômitos, sensibilidade à luz e som, geralmente agravada por atividade física. Já a cefaleia do tipo tensão apresenta dor dos dois lados da cabeça, de moderada intensidade, sem a presença de náuseas nem sensibilidade à luz e som.
Embora possuam características distintas, tanto a cefaleia do tipo tensão quanto a enxaqueca apresentam alterações nos mecanismos de controle da dor, centrais (ex.: deficit na modulação da dor) e periféricos (ex.: aumento na tensão muscular, ou hipersensibilidade tátil).
O tratamento para as cefaleias primárias pode ser farmacológico e não-farmacológico. Atualmente, com a melhora das pesquisas científicas, a abordagem não-medicamentosa como a terapia manual, técnicas de relaxamento e terapia cognitivo comportamental, vem ganhando cada vez mais espaço entre a população. Além disso, com o aumento do número de casos de cefaleias refratárias, causadas pela automedicação e o uso indiscriminado de analgésicos, a opção por terapias sem efeitos adversos torna-se bastante relevante.
O tratamento com biofeedback
Utilizado no tratamento da dor de cabeça desde 1970, o biofeedback é um tipo de terapia não-farmacológica que visa o aprendizado do controle das funções corporais, como por exemplo a respiração, batimentos cardíacos, contração muscular, etc. Durante o tratamento, o paciente fica conectado a sensores que monitoram as informações do corpo e auxiliam na modificação consciente dessas funções, que são muitas vezes involuntárias e automáticas. No tratamento com biofeedback, enfatiza-se o papel ativo do paciente para que ele possa controlar voluntariamente seus processos fisiológicos corporais.
O tratamento da dor de cabeça tensional e enxaqueca com biofeedback eletromiográfico tem como objetivo a diminuição da dor através do controle consciente da tensão muscular. Seu mecanismo de ação contribui para a modulação central da dor, agindo em estruturas periféricas como músculos e nervos, diferentemente do Neurofeedback (também chamado de biofeedback eletroencefalográfico), que tem sua atuação voltada para estruturas cerebrais de modulação da dor.
A técnica consiste na captação da tensão muscular, através de eletrodos adesivos colocados na musculatura que está alterada (no músculo frontal da testa, por exemplo). O nível de tensão captado é apresentado em um monitor, por meio de sinais auditivos ou visuais, para que o paciente tome consciência do estado de sua musculatura (feedback). Com a visualização das informações em tempo real, o paciente aprende a modificar o padrão de ativação e relaxar o músculo específico, resultando na diminuição da dor.
Após algumas sessões, pode-se observar a ocorrência de uma reeducação ou aprendizado muscular, onde o paciente consegue controlar as musculaturas treinadas sem a necessidade do auxílio do biofeedback.
Resultados de estudos apontam para uma redução na intensidade e frequência da dor de cabeça após o tratamento com biofeedback, com efeitos duradouros após o término do tratamento. Em outra pesquisa, foi observado a diminuição do uso de analgésicos durante a terapia com biofeedback nos pacientes estudados. Além disso, o efeito profilático na prevenção de novos episódios também foi referido em estudos.
Portanto, o tratamento com biofeedback eletromiográfico pode ser uma opção segura e eficaz no tratamento multidisciplinar da cefaleia do tipo tensão e da enxaqueca.
Dr. Diogo Suriani Ribeiro – Fisioterapeuta Convidado
Mestre em Ciências da Reabilitação pela Universidade de Brasília (UnB)
Especialista em Fisioterapia Neurofuncional (ABRAFIN)
Formação em Biofeedback (2007)
Formação em Neurofeedback (2014)
Membro do Comitê Dor e Movimento da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED)
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Referências:
American Headache Society. (2019). The American Headache Society position statement on integrating new migraine treatments into clinical practice. Headache: The Journal of Head and Face Pain, 59(1), 1-18.
Andrasik, F. (2010). Biofeedback in headache: an overview of approaches and evidence. Cleve Clin J Med, 77(Suppl 3), S72-S76.
Becker, W. J., Findlay, T., Moga, C., Scott, N. A., Harstall, C., & Taenzer, P. (2015). Guideline for primary care management of headache in adults. Canadian family physician, 61(8), 670-679.