Dor de cabeça ou cefaleia tensional é a forma mais comum de dor de cabeça primária, mas paradoxalmente é menos estudada, pois não alcançou o interesse científico e industrial da enxaqueca. Também denominada cefaleia tipo tensão, caracteriza-se de forma geral por uma dor com intensidade de leve a moderada, que não está associada a sintomas como: náusea, vômito, fotofobia e fonofobia, por exemplo. Apresenta variação quanto a frequência, duração e gravidade, com relatos episódios raros e esporádicos de desconfortos de curta duração, até dores de cabeça frequentes, duradouras e contínuas.

 

Subdivisões:

 

  • Forma leve, menor que 12 dias por ano;

 

  • Forma episódica que seria de 12 até 179 dias por ano;

 

  • Forma crônica, igual ou acima de 180 dias por ano

 

Na sua forma leve, é um incomodo que as pessoas consideram até mesmo como se fosse normal e consegue ter uma vida sem maiores problemas. Na forma crônica, torna-se angustiante e socialmente perturbador conviver com essa patologia. A idade média para início dos sintomas é maior que na enxaqueca, marcando 25 a 30 anos de idade para o início, chegando ao pico aos 30 até 39 anos, segundo estudos epidemiológicos transversais.

 

Em um estudo populacional, apenas 16% dos pacientes com cefaleia tensional procuraram um tratamento, contrastando com os 56% das enxaquecas. Já quanto ao uso dos medicamentos, os pacientes que possuem a cefaleia tensional, tomam 54% a mais de medicamentos que os que possuem as enxaquecas.

 

Em outro estudo de acompanhamento por 12 anos, 47% das pessoas com cefaleia tensional crônica, tiveram remissão dos sintomas, os que não obtiveram bons resultados deveu-se a enxaqueca coexistente e problemas no sono.

 

Normalmente a dor é bilateral (90% dos casos), a qualidade da dor é em forma de “apertamento” ou pesada que pode ir para os ombros e não se agravam pelas atividades física. Os pacientes descrevem sua dor de cabeça como “não pulsante” (característica da enxaqueca).

 

Cefaleia tensional e a musculatura

 

Devemos investigar possíveis gatilhos como patologia dentária, relação hormonal, relação sinusal, postura, alimentação desequilibrada, sono, estresse, ansiedade e depressão. Os músculos que devemos avaliar e realização a palpação são: ECOM, temporal, masseter, suboccipital e pericranianos. A presença de dor e sintomas associados a palpação destes músculos pode indicar um potencial benefício ao treinamento físico, correção da postura e terapias de relaxamento.

 

Embora alguns testes diagnósticos que nós fisioterapeutas usamos comumente nas nossas avaliações (leia esse artigo que descreve alguns) também sejam amplamente utilizados nesses pacientes, são raramente indicados, a menos que estejam presentes características alarmantes, como dor de cabeça progressiva, perda de peso, alterações cognitiva comportamental, achados neurológicos anormais ou acentuada resistência ao tratamento. Nestes casos devemos encaminhar para o médico, que poderá solicitar exames de imagens, sangue ou até punção lombar.

 

Tratamento da cefaleia tensional

 

O tratamento não farmacológico deve ser considerado para todos os pacientes com cefaleia tensional. A terapia física é o tratamento mais utilizado e inclui estratégias como: ajustes posturais, relaxamento/liberação miofascial e a prescrição de um programa de exercícios específicos. Esses podem ser realizados utilizando equipamentos como o eletromiográfo e biofeedback, que apresenta aos pacientes uma exibição auditiva ou visual da atividade muscular, permitindo a percepção e o controle da tensão muscular durante os exercícios.

 

A Terapia Cognitiva Comportamental, tem sido bastante utilizada nesses pacientes, ensinando a desmitificar crenças negativas e encorajando a prática de atividades físicas.

 

A maioria das dores na cefaleia tensional, como já ditas, são de leves a moderadas e os pacientes conseguem se auto gerenciar, usando analgésicos simples (conseguem obter resultados positivos, na maioria dos casos). Nos casos de cronicidade os AINES (anti-inflamatórios não esteroidais) são indicados.

 

Existe “prevenção farmacológica” na cefaleia tensional?

 

A farmacoterapia “profilática” pode ser considerada ou adicionada na cefaleia tensional crônica, que tenham respostas limitadas aos tratamentos tradicionais e não farmacológico. O antidepressivo tricíclico amitriptilina é um medicamento que provou ser eficaz. Caso não melhore, a mirtazapina também pode ser testada. O médico deve considerar que a eficácia do tratamento profilático pode ser modesto e que sempre devem ter resultados superiores aos efeitos colaterais, que são provocados por esses tipos de medicamentos, como: boca seca, sonolência, tontura, constipação, ganho de peso, por exemplo.

 

Qual o futuro da cefaleia tensional?

 

Sendo o tipo de dor de cabeça mais prevalente e, até certo ponto, menos estudado, é preciso que se lute pela sua existência e aceitação. Uma entrevista (avaliação) detalhada de todos os pacientes e o uso de diários de dor na cabeça podem ajudar a diferenciar de outros tipos de cefaleia.

 

O aumento da conscientização científica e um bom modelo fisiopatológico, são necessários, especialmente para o desenvolvimento de um tratamento mais específico, baseado em mecanismo. Cada vez mais parece ficar evidente que essa cefaleia é de origem muscular e que fatores no sistema nervoso periférico e central desempenham um papel fundamental nesse processo.

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Dr. Marcio Quirino – Equipe Head & Neck Fisioterapia