A partir das informações epidemiológicas sobre a dor cervical parece óbvio que o fisioterapeuta precisa considerar um raciocínio e abordagem mais abrangentes do que o modelo biomédico tradicional. Embora o modelo biomédico não esteja incorreto, como um paradigma é insuficiente para entender totalmente a individualidade de cada pessoa que tem a experiência de uma dor cervical (como demonstrado nos contrastes epidemiológicos das dores cervicais). Esse contexto se deve as diferenças que existem na constituição genética, experiencias prévias, base cultural e situação sócio-econômica, somente para citar algumas. O modelo biopsicossocial leva em conta todas essas informações, permitindo que o profissional sintetize as informações de diferentes áreas que fazem parte da experiência individual de dor. O modelo biopsicossocial requer que haja uma consideração das diferentes variáveis de interação entre os domínios biológico, psicológico e social (Engel, 1978). Isso permitirá a apreciação da variedade de respostas ao tratamento que parecem ter fisiopatologias similares.

A utilização do paradigma biopsicossocial para o raciocínio clínico requer a consideração das interações entre os sistemas nos diferentes níveis. Por exemplo, uma pessoa que passa pela experiência de uma dor de cabeça pode notar uma mudança no seu humor. Isso pode ser o resultado da disponibilidade de uma substância química agindo no sistema nervoso central (exemplo: serotonina). A mudança no humor pode afetar como o indivíduo funciona em sociedade, podendo evitar sair de casa ou até mesmo afetar a dinâmica da vida familiar. Em outro nível, a mudança de disponibilidade de serotonina pode ter um efeito na sensibilidade geral, mostrada por um aumento na reatividade a diferentes estímulos externos como luzes brilhantes e barulhos altos. Isso demonstra como pequenas mudanças relativas em um sistema pode ter repercussões em muitos outros níveis. Uma visão mais holística dos pacientes e a identificação dos efeitos do comportamento de suas patologias se conectam com uma interpretação da classificação atualizada da função, incapacidade e saúde apresentada pela Organização Mundial de Saúde. Tal fato, permite a integração do conhecimento de que todos os sistemas biológicos e cada nível do sistema estão funcionalmente interrelacionados em um continuum hierárquico (exemplo: do microscópico para o macróscópico).

A aplicação do raciocínio clínico no paciente em uma base individual requer uma profundidade de conhecimento e habilidade em anatomia, biomecânica e cicatrização tecidual. Deve-se abranger o conhecimento de outros modelos como o entendimento atualizado dos mecanismos da dor, o modelo da maturação orgânica (Gifford, 1998) e o paradigma da neuromatrix (Melzack, 1989 e 1990). Além disso, a compreensão dos modelos psicológicos é de suma importância. Os modelos de medo-evitação são importantes para o entendimento dos pensamentos e crenças relevantes nos processos dolorosos (Vlaeyen e Linton, 2000) e se conecta com as ideias de educação e a noção de exposição gradual, que é quase sempre aplicado pelos fisioterapeutas em reabilitação. As informações extraídas de modelos, como o da biologia evolutiva pode elevar o processo de raciocínio para os profissionais e pacientes.

O trabalho com um modelo conceitual subjacente pode guiar o tratamento por permitir a síntese das informações e evidências dentro de um princípio unificado. Isso ajuda a fornecer algum entendimento das diferentes situações dolorosas enigmáticas como:

  • a dor na ausência de nocicepção;
  • a ausência de dor na presença de lesão tecidual;
  • variabilidade e imprevisibilidade na resposta individual a tratamentos idênticos;
  • a falta de relações previsíveis entre dor, impedimentos e incapacidade.

 

O entendimento mais profundo da relação e interação entre as variáveis dos domínios biológico, psicológico e social permite um diagnóstico clínico mais efetivo, além de uma intervenção e plano de tratamento apropriados (Smart et al., 2008).

Apesar da existência de diversos guidelines para o manejo das diferentes desordens cervicais é necessário que o profissional aplique esses princípios no contexto do indivíduo e sua atual condição, pela utilização de um alto nível de raciocínio, avaliação e habilidades terapêuticas (Jull, 2009). Pelo reconhecimento da heterogeneidade dos pacientes, as vias alternativas podem ser criadas para entender a melhor maneira de individualizar as intervenções. Esse objetivo pode ser alcançado pelo agrupamento dos indivíduos dentro de sistemas de classificação nos quais haja o reconhecimento das variáveis psicossociais ou até mesmo através do desenvolvimento de regras de predição clínica para certas condições (Beneciuk et al., 2009). Apesar do progresso nas pesquisas desses princípios científicos é importante que o terapeuta mantenha um nível independente de raciocínio e o respeito a cada condição individual.

Jorge Arrigoni – EQUIPE HEAD & NECK FISIOTERAPIA

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