O sono tem um papel dinâmico na regulação dos principais sistemas efetores centrais, como o eixo hipotálamo – hipófise – adrenal e o sistema nervoso simpático, bem como o sistema imunológico. A redução do sono, dificulta a imunidade para algumas vacinas e favorece o risco de pneumonias ( sono menor que 5 horas por dia) e aumenta a susceptibilidade de contrair um resfriado (sono menor que 6 horas).

Durante o sono ocorre uma redução na atividade do sistema nervoso simpático e aumento da atividade do sistema nervoso parassimpático ou vagal. A insônia aumenta o fluxo simpático e os níveis de noradrenalina e adrenalina, que está ligado aos biomarcadores inflamatórios. O sistema linfático é aprimorado durante o sono e um sono desregulado podem afetar o sistema de remoção dos resíduos do sistema nervoso central e a liberação de proteínas anormais.

 

O que consiste uma má qualidade de sono:

 

– apneia obstrutiva;

– redução do tempo total (média normal 6 a 8 horas por dia);

-Demora para iniciar o sono;

-fragmentação do sono;

-eventos perturbadores;

-cansaço ao acordar e durante o dia;

 

Existem relação entre a redução na qualidade do sono e dores de cabeça?

 

As pesquisas estão voltadas no processamento alterado na dor nociceptiva. Entre os fatores que potencializam, estão o mecanismo de sensibilização central, estresse emocional, depressão e o distúrbios do sono, todos tem um papel especial, aumentando os disparos nociceptivos, que desencadeia repostas hiperalgésicas. Os distúrbios do sono e as dores de cabeça compartilham estruturas cerebrais comuns e mecanismo patogênicos, 50% dos indivíduos que possuem cefaleia tensional e enxaqueca, sofrem de insônia. Além disso, insônia e má qualidade do sono, tem sido associado a maior intensidade e frequência na dor de cabeça, apoiando que pacientes que possuem distúrbios no sono, são mais propensos a ter dor de cabeça. Dor de cabeça que surge logo após o sono, pode sugerir um sinal de distúrbio do sono e devem ser investigados mais a fundo, devendo ser aconselhável fazer um histórico do sono, como por exemplo:

 

  • Uso de aparelhos eletrônicos (celulares, computador, televisão);
  • Horário que costuma dormir;
  • Quantas vezes despertam no meio do sono e inicio do manhã;
  • Eventos perturbadores do sono ( roncos, movimentos , pesadelos , dor etc );
  • Dor de cabeça ao acordar;
  • Sonolências Diurnas (cochilar em locais públicos, fadiga, irritabilidade, comprometimento cognitivo)

 

Outra característica encontrada nos pacientes que sofrem de enxaquecas é o ronco, sendo 2x mais comum nos pacientes que apresentam enxaquecas crônicas, do que nas episódicas e aumentou para quase 3x após os ajustes dos fatores de risco tradicionais da apneia do sono ( idade,sexo, índice de massa corporal, hipertensão e álcool). Esses pacientes podem sofrer de apneias obstrutivas e ser encaminhado para um médico, afim de realizar exames complementares (polissonografia), caso o resultado for positivo, aparelhos como o bipap, poderá auxiliar no tratamento .

 

Variáveis clinicas e emocionais relacionadas ao sono.

 

Uma revisão sistemática encontrou evidências que depressão, ansiedade, sono ruim, uso excessivo de medicamentos, estresse e baixa auto eficácia, foram fatores potenciais para um mal prognóstico e resultados indesejáveis no tratamento preventivo de medicamentos em dor de cabeça crônica . Essa associação pode ser mediada pela capacidade de depressão e distúrbios do sono, para desencadear respostas hiperalgésicas no sistema nervoso central, aumentando a excitabilidade do disparo nociceptivo.

Deve-se notar que a dor de cabeça e distúrbios do sono, são problemas bidirecional: a dor de cabeça pode desenvolver distúrbios do sono e a falta de sono pode desencadear as dores de cabeça. Essa Bidirecionalidade pode está relacionada ao fato de que o sono e a dor de cabeça compartilham de estruturas cerebrais comuns por exemplo: núcleo do tálamo, hipotálamo e tronco encefálico .

Kelma e Rains descobriram que metade dos indivíduos que sofriam com dores de cabeça, relataram sintomas de insônia, 38% relataram dormir menos de 6 horas por noite e 50% tinham seus sintomas desencadeados por distúrbios do sono. Uhlig e col relataram que a prevalência de insônia foi 1,8 vezes maior em indivíduos com cefaleia tensional, quando comparados com aqueles que não tinha dor de cabeça. O mesmo estudo descobriu que a enxaqueca também está associado a um maior risco de insônia . De Luca Canto e col relataram que a enxaqueca e cefaleia tensional, estão associado ao bruxismo no sono (apartamento dos dentes) e que a insônia é um fator de risco para desenvolver as dores de cabeça. Verma e Col viram que indivíduos com cefaleia tensionais apresentam melhor sono de ondas lentas, mas aumentaram significativamente a sonolências diurnas, quando comparados com as enxaquecas crônicas.

Portanto os achados atuais sugerem que o tratamento terapêutico de pacientes com cefaleia tensional e enxaqueca, devem incluir abordagens direcionadas a depressão (abordagem psicológicas), cargas emocionais na dor de cabeça (terapia cognitiva- comportamentais), qualidade do sono (estratégias para melhorar um problema pessoal) e dor (terapia medicamentosa e físico). Essa proposta multimodal corrobora com a literatura atual, mostrando que períodos mais longos do sono, são ótimas ferramentas para auto gerenciamento e redução nas dores de cabeça. Uma melhor compreensão dos fatores que alteram a qualidade do sono, podem ajudar aos profissionais a conduzir um tratamento mais adequado nas cefaleias e enxaquecas.

 

Marcio Quirino – Equipe Head & Neck Fisioterapia